Uma noite fria.
Seca. Poucos raios de luz da cidade, ainda acordada, penetram pela fresta da
cortina mal fechada. Silêncio. Uma frágil menina perdida em si mesma. Eu.
Deitada em minha cama, enroscada em meu
cobertor procurando um aconchego, olho para o nada, e começo a pensar em tudo.
Principalmente em você. Clichê, mas verdade.
Fecho os olhos tentando fugir da saudade e
da dor acumulada com mais um dia de fingimento. Não funciona.
Minha mente é inundada por um oceano de lembranças.
Imagens que me marcaram. Você chegando e me levando a um universo paralelo onde
tudo é colorido e repleto de vida e amor. Você indo embora e deixando um rastro
de dor e realidade que me sufocam.
Meu olhar cria vida própria e se dirige sem
permissão para a cabeceira. E lá está você. Nossa foto na praia. Lembra? Sempre
a olho antes de dormir. Traz-me –ou trazia-me- paz saber que você está ao meu
lado por toda a noite, mesmo que não o seja de verdade.
As mesmas sensações me levam de volta ao
passado e meu coração começa a palpitar. Um sorriso bobo se abre, porém logo se
fecha.
Olho para o alto. Fecho os olhos. Conto até
10. Respiro fundo. Mas não adianta... Não consigo segurar e a lágrima cai,
deslizando pelo meu rosto. É o símbolo da minha alma nesse instante.
Incrível como a primeira lágrima é como uma
represa. Assim que ela escorre, as muitas outras, antes escondidas e facilmente
controladas, agora já não podem mais ser evitadas.
Nossa! Não imaginei que fosse doer tanto!
Um vazio sem dimensões toma conta de mim. É
como se um vento gelado do extremo sul, percorresse por todo o meu ser. Droga! Por
que você fez isso?! Por que você “teve” que me machucar?! Por que?
Meus olhos começam a pesar. Até que enfim. Vou
poder fugir um pouco desse martírio. O já estreito raio de visão vai diminuindo,
até que eu só posso “ver” a escuridão. Sussurro
um “Boa Noite” para o vazio, antes de adormecer. Sabendo que logo, terei de
enfrentar mais um dia de falsos sorrisos.
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